Eu perguntaria à um ateu o quanto ele não acredita em Deus. E ainda, se ele não acredita em Deus o suficiente para deixar de negar Deus constantemente, de minuto a minuto. Eu perguntaria à um crédulo o quanto ele acredita em Deus. E ainda, se ele acredita em Deus o suficiente para deixar de afirmar a presença de Deus constantemente, de minuto a minuto. Assim mesmo, parecido com “o pau que dá em Chico dá em Francisco”.

Na primeira colocação, qualquer um que se fez conhecedor, mesmo que superficialmente da Psicanálise de Freud, sabe muito bem o que significa uma negação veemente, sabe também que a ausência confirmada é a presença anunciada. Já na segunda colocação, os conhecedores da teoria freudiana também já ouviram falar de auto afirmação, de justificação e etc. Eu acredito demasiadamente no postulado de Freud quando ele vem afirmando que religião é um mecanismo de defesa no sentido atrelado à crença religiosa oriunda da relação da criança com o “sentir-se” desamparado e tudo que este estado suscita no que se refere à eterna busca de proteção do pai. No entanto, penso eu que, o ateísmo, trazido aqui como ausência de crença ou sentimento religioso e negação de qualquer ser superior também é uma formação psíquica de mecanismo de defesa.

E ainda deixo aqui questão para se refletir: na psique humana, o que não é mecanismo de defesa? Partindo do pressuposto de Freud de que há a possibilidade de uma formação psíquica ocorrer ao contrário, como é o caso da formação psíquica do Édipo ao contrário, quando o menino se identifica com a mãe e se apaixona pelo pai, possibilitando assim, que a orientação psicossexual se direcione para a homossexualidade, o ateísmo não seria uma formação psíquica ao contrário daquela formação psíquica gerada pela necessidade de proteção do pai, por conta do desamparo? Não que nesse caso se perca a importância da figura paterna, pois toda representação “do pai” é válida e surte efeito nas formações psíquicas mais remotas, mas também é sabido que inúmeras outras representações têm responsabilidade no construto psíquico do indivíduo, assim, dificuldades vencidas na idade mais tenra de uma pessoa, podem sim alimentar nela autossuficiência e orgulho o bastante para gerar um narciso elevado que a possibilite renunciar à eterna busca de proteção ao desamparo, inclinando-a a negar a existência de algo externo que protege, direcionando-a para a crença na auto proteção.

Ora, se há questões neuróticas pertinentes à religião, também há questões neuróticas pertinentes à ausência de religião, aliás, em todo contexto humano há questões neuróticas. O que é chamado ao tratamento nos ambientes psicoterápicos são as neuroses angustiantes, aquelas que extrapolaram o seu grau de normalidade e se transformaram em neuroses patológicas, isto, tanto do lado do crédulo como do lado do ateu, até porque no texto está supracitado “o pau que dá em Chico dá em Francisco”.

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